Semana passada, o IBGE divulgou a Síntese de Indicadores Sociais, cujos dados, relativos à pesquisa do ano de 2017, revelam significativo aumento da pobreza no país, que já era estarrecedora, sob quaisquer aspectos que se analise o problema, no ano anterior. Incrivelmente, quase 55 milhões de brasileiros (54,8 milhões), ou seja, mais de um quarto de nossa população vive em situação de pobreza. E destes desafortunados patrícios, 15,3 milhões vivem em condição de pobreza extrema. Para efeitos de classificação, são considerados pobres aqueles que vivem com menos de R$ 406 por mês e extremamente pobres os que sobrevivem com renda mensal inferior a cerca de R$ 140.
A drástica minoração das desigualdades e desequilíbrios sociais, se for entendido impossível eliminá-los completamente, é a mais grave e urgente tarefa de quaisquer governantes que se proponham a encaminhar o país para um futuro que não seja a imensa tragédia que se desenha para o nosso amanhã. Todos nós sabemos que progresso equilibrado e justo, que desenvolvimento - social, econômico - se constroem com educação. É assim no mundo todo. Dos badalados países nórdicos à Oceania. Da Coreia ao Canadá. E, antes que os processos educacionais possam produzir resultados efetivos, com distribuição de renda e mínima partilha da riqueza produzida pela coletividade. Sem bons programas de distribuição de renda, que sejam sérios e comprometidos também com a integração dos beneficiários aos processos produtivos, e sem o Estado presente de forma efetiva na formulação de programas e projetos educacionais adequados às necessidades de transformação e de mudança da realidade social não iremos a lugar algum.
E não basta universalizar o acesso à educação primária e fundamental, algo que, de algum modo, conseguimos ou espalhar cursos universitários, tornando-os acessíveis a quantos possam desembolsar algum dinheiro (de forma direta e imediata ou indiretamente, através de bolsas, e pagamentos futuros). Com isso, temos formado contingentes de bacharéis e "doutores" incapazes de encarar a realidade profissional das áreas para as quais foram "formados". Universalizar o acesso à educação é fundamental, mas sem qualificar os processos educacionais e sem valorizar de forma efetiva a escola e os profissionais que atuam na área, tudo não passará de engodo, de ilusória retórica, de faz de conta.
Professores mal remunerados, desvalorizados, escolas caindo aos pedaços, programas educacionais não atrativos, comunidade escolar (aí se inclui a família) ausente, e grosseiras bobagens como a escola sem partido, formam um caldo de cultura propício a perpetuação da ignorância, do analfabetismo funcional e da miséria que avança de forma avassaladora no país e faz com que dezenas de milhares de jovens, especialmente pardos e negros (maioria entre os mais pobres) sejam mortos de forma violenta a cada ano no Brasil. Mudar essa realidade, eis o nosso verdadeiro e imenso desafio.